sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

1ª Guerra Mundial ( 1914-1918 )


A Primeira Guerra Mundial é o primeiro conflito armado que envolve diretamente as grandes potências do mundo. Dura de 1914 a 1918 e altera a organização social e política em âmbito mundial. Até então existem apenas conflitos envolvendo determinadas regiões do planeta.
Antecedentes da Primeira Guerra
Desde meados do século XIX acirra-se a disputa entre as potências imperialistas da Europa pelo controle das matérias-primas e dos mercados mundiais. Elas travam guerras contínuas e disputas por novos territórios.
Rivalidades econômicas e imperialismo – A entrada de novas potências industriais imperialistas no cenário internacional aguça as rivalidades entre seus interesses econômicos, em particular sobre a repartição dos mercados e territórios.
Explosão de nacionalismo – O nacionalismo das grandes potências desemboca num sistema de alianças para proteger-se da expansão das demais. O nacionalismo das nações colonizadas manifesta-se em ações violentas e pressões contra as potências coloniais. A crise dos Bálcãs, a partir de 1908, torna-se o foco das rivalidades imperialistas, em virtude da decadência do Império Otomano e da possibilidade da divisão de seus territórios. Os principais movimentos nacionalistas se desenvolvem na Europa e são o pan-eslavismo, o pangermanismo e o revanchismo francês.
Pan-eslavismo – Defende a união de todos os povos de origem eslava da Europa oriental, incluindo os que estão sob domínio do Império Austro-Húngaro. Manifesta-se a partir da Rússia, que busca uma saída para o mar Mediterrâneo.
Pangermanismo – Propõe a consolidação de um bloco de países de origem germânica. É liderado pela Alemanha.
Revanchismo francês – Em 1870 a França é derrotada ao tentar conter o expansionismo germânico e obrigada a ceder à Alemanha a Alsácia-Lorena, região rica em carvão e minério de ferro. Desde então cresce entre os franceses um movimento revanchista para recuperar o território cedido e "se vingar" da Alemanha.
Crise nos Bálcãs – Os enfrentamentos entre Sérvia e Áustria na península balcânica também colaboram para acirrar as diferenças nacionalistas entre os países da Europa. Apoiados pelos russos, os sérvios tentam conter a expansão da Áustria. Em 1908 a Áustria anexa a Bósnia-Herzegóvina impedindo que a Sérvia organize a Grande Sérvia, que incorporaria as regiões de povos eslavos. Sistema de alianças
No início do século XX o clima de tensão entre as grandes potências é tão grande que o conflito já se mostra inevitável. Os países procuram então organizar os exércitos, produzir armamentos e fazer acordos entre si para garantir força na disputa. Em 1907 estão formadas a Tríplice Aliança e a Tríplice Entente.
Tríplice Aliança – Reúne a Alemanha, a Áustria-Hungria e a Itália, a partir de 1882, com o objetivo de enfrentar o expansionismo francês na Europa. Durante a guerra, o Império Otomano incorpora-se a ela por sua aliança com a Alemanha e por suas rivalidades com a Rússia. A Bulgária, que tem grandes interesses nos Bálcãs, também se alia à Alemanha. A Itália, embora pertencente à Tríplice Aliança, declara-se neutra no início do conflito e depois, em 1915, passa para o lado de seus inimigos, apoiando a Tríplice Entente.
Tríplice Entente – Tem por base a Entente Cordiale, formada em 1904 pelo Reino Unido e pela França para opor-se ao expansionismo germânico. Em 1907, com a adesão da Rússia, ela se transforma na Tríplice Entente. Durante a guerra, outras 24 nações incorporam-se à Entente, formando uma ampla coalizão chamada de Aliados.
O mundo em guerra
O estopim do primeiro conflito mundial é o assassinato, em 28 de junho de 1914, do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austríaco.
Assassinato de Francisco Ferdinando – Francisco José, imperador da Áustria-Hungria, chega aos 84 anos de idade e sua morte não causaria impacto na vida política do império, pois seu filho, o arquiduque Francisco Ferdinando, está pronto para assumir o poder. Por essa razão, o assassinato do arquiduque austríaco, em Sarajevo, na Bósnia-Herzegóvina, pelo estudante bósnio Gavrilo Princip é encarado como um ataque contra o império e a causa imediata da Primeira Guerra Mundial.
Objetivo dos conspiradores – O assassinato do herdeiro do trono austro-húngaro começa a ser preparado na capital da Sérvia, Belgrado, por militantes de uma sociedade secreta chamada Unidade ou Morte, mas conhecida popularmente como Mão Negra. O principal objetivo do grupo nacionalista sérvio é impedir a execução do plano de reorganização do Império planejado, segundo voz corrente nos meios políticos e diplomáticos, por Francisco Ferdinando.
Sérvia na parede – Aberto um inquérito para apurar as responsabilidades pelo atentado contra o arquiduque Francisco Ferdinando, as autoridades austríacas comprovam a existência de uma conspiração sérvia na orientação do crime. Em represália, no dia 23 de julho seguinte a Áustria envia documento ao governo sérvio exigindo duras providências oficiais. O governo austríaco pede o imediato fechamento dos jornais empenhados em propaganda contra a Áustria, a proscrição das sociedades secretas, a exclusão do governo e das Forças Armadas dos acusados de campanha anti-austríaca e a aceitação da cooperação de funcionários e militares austríacos no combate ao movimento contrário ao império dos Habsburgo.
Virtual rendição – A resposta do governo sérvio, a 25 de julho, representa praticamente a rendição da Sérvia, pois aceita quase integralmente as exigências austríacas. Nos meios diplomáticos, acredita-se no afastamento da ameaça de guerra. A Áustria, surpreendentemente, não aceita a resposta sérvia, rompendo as relações diplomáticas entre os dois países e mobilizando seu Exército. Os sérvios, entretanto, estão preparados para a intransigência austríaca e, junto com a resposta de 25 de julho, mobilizam suas Forças Armadas. A atitude austríaca é um sintoma do precário equilíbrio político europeu que antecede o assassinato de Francisco Ferdinando. Pouco antes do atentado, a Rússia, com a concordância da França, deixa claro à Áustria que não aceita qualquer medida de agressão à Sérvia. O governo alemão concorda com a necessidade de providências contra a Sérvia, como forma de limitar as desavenças na região, mas se coloca ao lado da Áustria, acreditando na neutralidade final da Rússia.
Declaração de guerra – Em 28 de julho de 1914 a Áustria declara guerra à Sérvia. A situação se agrava com a decisão russa de mobilizar suas tropas não apenas contra a Áustria, mas também contra a Alemanha. O kaiser alemão, Guilherme II, apela ao czar russo Nicolau II em favor da paz européia, mas a facção militarista russa convence o soberano a manter a mobilização. Diante da decisão do governo russo, a Alemanha envia um ultimato ao czar Nicolau II exigindo o cancelamento da ordem de mobilização. Em 1º de agosto o embaixador da Alemanha pede ao ministro das Relações Exteriores da Rússia que interceda a favor do atendimento do ultimato alemão, mas não encontra eco para sua proposta. Em resposta às negativas do ministro russo, o embaixador entrega uma declaração de guerra à Rússia. Enquanto isso, os emissários do kaiser também procuram as autoridades francesas, na tentativa de deter o conflito. O governo francês dá uma resposta dúbia ao governo alemão e, em seguida, ordena a mobilização de suas tropas. No dia 3 de agosto a Alemanha declara guerra à França.
Participação inglesa – No início das hostilidades, o Reino Unido parece neutro, mesmo com os dois outros integrantes da Tríplice Entente em estado de guerra. Mas a invasão da Bélgica pelos alemães, que não tinham outra forma de atingir a França, serve como pretexto para sua entrada no conflito. O governo inglês entra na guerra à meia-noite de 4 de agosto, alegando ser signatário de um tratado que garante a neutralidade do território belga.
Japão, Turquia e Itália – A guerra imediatamente envolve outras nações. Os montenegrinos socorrem os sérvios contra a Áustria, pois têm a mesma origem étnica. O Japão, de olho nas possessões alemãs no Extremo Oriente e escudado em uma aliança com o Reino Unido, alinha-se contra a Alemanha. A Turquia entra ao lado dos alemães e ataca os portos russos no mar Negro. A Itália mantém-se neutra, sob diversos subterfúgios, até maio de 1915, quando entra no conflito ao lado da Tríplice Entente, sob a promessa de receber parte de territórios da Áustria e da Turquia.
Propaganda da guerra – Líderes dos países envolvidos nos dois lados da conflagração se dizem movidos por motivos nobres. A Inglaterra fala na defesa das nações mais fracas. A França diz lutar pelos valores eternos do humanismo. O presidente norte-americano Woodrow Wilson garante que a Entente tem como missão salvar o mundo do militarismo. Até os socialistas europeus, que juram lutar contra as guerras promovidas pelos países capitalistas, se transformam em ardorosos patriotas guerreiros. No outro lado do campo de batalha, o kaiser diz que a guerra contra a Entente é a luta do bem contra o mal, sendo o bem a defesa de uma cultura superior, a alemã. Os socialistas alemães também são seduzidos pelos argumentos dos militaristas, acreditando que a guerra da Alemanha contra a Rússia vai contribuir para derrubar o czar.
Estratégia e técnicas de guerra – Na Frente Ocidental, da França ao mar do Norte, passando pela Suíça, a guerra estaciona por quatro anos. A Alemanha avança sobre a França, mas é contida nessa frente e os exércitos inimigos ocupam uma extensa malha de trincheiras, protegida por arame farpado, dedicando-se a ataques violentos e de efeitos locais.
Batalhas terrestres – O grosso da guerra é travado em combates terrestres, com o uso da artilharia e de tropas armadas de fuzis, baionetas e granadas. São também empregados lança-chamas e gases letais.
Novas armas – Desenvolvida em 1718 pelo inglês James Puckle, a metralhadora original disparava cerca de 10 tiros por minuto mas é aprimorada e chega ao século XX como uma das armas mais mortíferas da Segunda Guerra. Os tanques são empregados apenas a partir de 1916, sob a desconfiança dos chefes militares, ainda adeptos das armas e estratégias tradicionais. O avião também estréia, mas limitado a missões de reconhecimento e poucos, embora haja alguns combates aéreos.
Entrada dos Estados Unidos – Os Estados Unidos declaram guerra à Alemanha em abril de 1917, alegando lutar contra o autoritarismo e o militarismo. O pretexto para entrar no conflito ao lado da Entente é a declaração das autoridades da Alemanha reafirmando o uso generalizado de submarinos, inclusive ameaçando afundar sem aviso prévio os navios neutros a caminho dos portos britânicos. Os EUA também defendem a criação de uma liga das nações para regular as relações entre os povos, com o estabelecimento de um fórum capaz de substituir as maquinações diplomáticas. Mas o principal objetivo norte-americano é preservar o equilíbrio de poder na Europa e evitar uma possível hegemonia alemã.
Revolução Russa – As derrotas e perdas com a guerra levam a insatisfação à Rússia. Greves e conflitos obrigam o czar Nicolau II a renunciar e o poder, depois de dois governos provisórios, cai nas mãos dos bolcheviques, que instalam um Estado socialista. Em março de 1918, os bolcheviques fazem a paz em separado com a Alemanha pelo tratado de Brest-Litovsk.
Tentativas de paz – Algumas tentativas são feitas para alcançar a paz. Socialistas da Holanda e Escandinávia tentam montar uma conferência internacional para conseguir o término da guerra sem anexações ou indenizações. A idéia é encampada pelos partidos socialistas mais importantes da Europa, em ambos os lados da conflagração, mas a proposta é arquivada porque os governos da Entente vetam a participação dos delegados de seus países no encontro, marcado para Estocolmo. Uma idéia similar, do papa, também é recusada. Woodrow Wilson, no papel de porta-voz dos Aliados, descarta qualquer sugestão de paz que implique a manutenção do kaiser no governo alemão.
Os 14 Pontos – Em janeiro de 1918 o presidente dos EUA, Woodrow Wilson, apresenta uma proposta de paz contida em 14 pontos: exigência da eliminação da diplomacia secreta em favor de acordos públicos; liberdade nos mares; abolição das barreiras econômicas entre os países; redução dos armamentos nacionais; redefinição da política colonialista, levando em consideração o interesse dos povos colonizados; retirada dos exércitos de ocupação da Rússia; restauração da independência da Bélgica; restituição da Alsácia e Lorena à França; reformulação das fronteiras italianas; reconhecimento do direito ao desenvolvimento autônomo dos povos da Áustria-Hungria; restauração da Romênia, da Sérvia e de Montenegro e direito de acesso ao mar para a Sérvia; reconhecimento do direito ao desenvolvimento autônomo do povo da Turquia e abertura permanente dos estreitos que ligam o mar Negro ao Mediterrâneo; independência da Polônia; e criação da Liga das Nações.
Fim da guerra – Em julho de 1918 as forças inglesas, francesas e norte-americanas lançam um ataque definitivo contra os alemães, forçados a retroceder. A guerra já está virtualmente vencida pelos Aliados. A Bulgária retira-se do conflito e a Turquia se rende. O imperador Carlos I, sucessor de Francisco José, assina um armistício e a Áustria abandona o conflito. A guerra continua porque Wilson exige a deposição do kaiser, mesmo com os alemães aceitando a rendição com base nos 14 pontos.
Rendição alemã – A Alemanha continua a guerra sozinha. A falta de alimentos, causada pelo bloqueio aliado, e a precária situação de saúde da população civil deixam o país à beira de uma revolução social. Na Baviera é proclamada a República e o restante do país encontra-se sublevado. Um decreto anuncia a abdicação do kaiser, que foge para a Holanda. Um conselho provisório, chefiado por Friedrich Ebert, líder dos socialistas, assume o poder e negocia a rendição. Em 11 de novembro de 1918 o marechal Foch, comandante dos exércitos da Entente, assina o tratado de paz com os representantes da Alemanha.
Kaiser Guilherme II
Saldo da guerra – A guerra, mesmo sem grandes deslocamentos, mata 10 milhões e fere 20 milhões de soldados de ambos os lados do conflito. A Entente ganha porque detém o controle permanente das rotas navais e recebe apoio irrestrito em dinheiro, material bélico e provisões dos aliados e de dezenas de países neutros.
Tratado de Versalhes
A Conferência de Paz de Versalhes, realizada no palácio de Versalhes, em Paris, França, acontece de 1919 e 1920 com a participação das 27 nações vencedoras. O acordo resultante, o Tratado de Versalhes, é implacável com os vencidos. Os alemães são obrigados a aceitar essas condições, que serão o germe da Segunda Guerra Mundial. Os 440 itens espelham os interesses e vontades representados por Woodrow Wilson, presidente dos Estados Unidos; David Lloyd George, primeiro-ministro britânico; e Georges Clemenceau, primeiro-ministro francês. Os 14 Pontos propostos por Wilson são praticamente postos de lado. Alguns pontos são modificados de tal forma que se tornam irreconhecíveis. O Tratado de Versalhes é assinado pelos representantes alemães, depois de inúmeros protestos e da ameaça de invasão da Alemanha pelos exércitos vencedores, em 28 de junho de 1919.
Liga das Nações – É criada em 28 de abril de 1919 com sede em Genebra, na Suíça. O presidente norte-americano Woodrow Wilson abdica de quase todas as suas propostas na Conferência de Versalhes com o objetivo de conseguir a criação da Liga das Nações. Para Wilson, a derrota da Alemanha significa a contensão do militarismo na Europa e a possibilidade de um fórum no qual pequenos e grandes países possam trabalhar pela paz mundial. A Liga das Nações, entretanto, irá fracassar por defeitos de origem. Para conseguir passar a sua idéia, Wilson é obrigado a fazer concessões que acabam por inviabilizar o organismo. O Japão, por exemplo, troca seu ingresso na Liga pelas antigas possessões alemãs na China. Já a França exige a exclusão da Alemanha e da Rússia. Por fim, é rejeitada pelos Estados Unidos, a nação de seu idealizador.
As imposições do Tratado – A Alemanha é obrigada a entregar à França a Alsácia e a Lorena, além de outros territórios à Dinamarca e à Polônia. As minas de carvão do Sarre são cedidas à França para exploração por 15 anos. O porto de Danzig é entregue à jurisdição da Liga das Nações e sua exploração à Polônia. A Alemanha é desarmada: entrega aos vencedores seus submarinos e navios, com poucas exceções; é proibida de ter aviação militar e marinha de guerra; o Exército é limitado a 100 mil homens. Como compensação pelas perdas e danos sofridos pelos países da Entente, os alemães são condenados a pagar a soma de US$ 33 bilhões, calculada em 1921. O Tratado de Versalhes trata quase exclusivamente da Alemanha. Outros acordos são assinados em separado com os seus aliados na guerra. O Império Austro-Húngaro é desmembrado e surgem a Tchecoslováquia, Hungria, Polônia e Iugoslávia.
Conseqüências da guerra – A Primeira Guerra Mundial, "a guerra destinada a acabar com todas as guerras", planta as sementes da Segunda Guerra Mundial. O nacionalismo e o militarismo não desaparecem e surgem novos totalitarismos. O conflito, entretanto, muda a face do mundo. As economias nacionais descobrem a necessidade de planejamento central e do uso mais racional dos materiais e da força de trabalho. O comércio mundial ganha novos contornos, com o início do processo de industrialização na América Latina e no Japão. A inflação surge definitivamente no cenário econômico internacional. Tem início a participação da mulher no mercado de trabalho e sua posterior emancipação, em conseqüência do seu papel decisivo no esforço de guerra. Entretanto, as esperanças de um novo tempo, sob o signo da democracia, logo são abandonadas.
Quase todo os países caem sob a forma de totalitarismos, do comunismo ao fascismo e nazismo.

Um comentário:

Lucy Corretora disse...

eae professor. muito bom esse resumao que o senhor fez.